A Norma Regulamentadora nº 1 (NR 1) é o ponto de partida para compreender a legislação de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) no Brasil. Mais do que uma lista de obrigações, ela é a base sobre a qual se estruturam todas as demais normas. Sua função é oferecer coerência, direcionamento e um modelo de gestão que coloca a prevenção como prioridade.

Nos últimos anos, a NR 1 passou por importantes atualizações, tornando-se não apenas uma norma geral, mas um verdadeiro guia estratégico de gestão de riscos ocupacionais.

Atualmente a legislação brasileira está alinhada com uma abordagem moderna de gestão, em que o foco principal é a antecipação e o controle dos riscos ocupacionais. As mudanças recentes da NR 1 trouxeram conceitos fundamentais como:

• Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO): estabelece uma visão estruturada e integrada da prevenção, exigindo que as empresas identifiquem, avaliem e controlem os riscos em todas as etapas do processo de trabalho.
  
• Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR): substitui programas anteriores e se torna o documento central da gestão de SST dentro das organizações, funcionando como um plano vivo e adaptável à realidade de cada atividade.
  
• Integração com normas internacionais: a NR 1 passou a dialogar com modelos de gestão consagrados, como a ISO 45001, permitindo maior coerência entre práticas nacionais e padrões globais.
  
• Capacitação e treinamento: a norma também inovou ao reconhecer a modalidade de ensino a distância (EAD e semipresencial), flexibilizando a forma de capacitação desde que atendidos os requisitos de qualidade e aproveitamento.
  
• Responsabilidade compartilhada: reforça a corresponsabilidade entre empregadores e trabalhadores no cumprimento das medidas preventivas, criando um ambiente de maior engajamento e cultura de segurança.
  

Essas atualizações consolidaram a NR 1 como um marco regulatório moderno, que não apenas normatiza, mas orienta estrategicamente a gestão da SST, colocando a prevenção no centro da produtividade e da sustentabilidade empresarial.

O novo paradigma: GRO e PGR

A grande inovação da NR 1 foi a criação do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), um sistema de gestão contínuo, que deve estar presente em todas as organizações.

Esse sistema se materializa no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), composto por dois pilares:

1. Inventário de Riscos Ocupacionais – diagnóstico detalhado dos perigos no ambiente de trabalho.
   
2. Plano de Ação – medidas práticas para eliminar, reduzir ou controlar os riscos identificados.
   

Com essa mudança, o antigo PPRA deixou de existir. O novo modelo é mais dinâmico e eficaz, porque vai além da identificação: exige o monitoramento constante e a melhoria contínua.

A novidade mais recente: riscos psicossociais

Em 2024, a NR 1 foi novamente atualizada para incluir os fatores psicossociais no gerenciamento de riscos. Isso significa que, além dos riscos físicos, químicos e biológicos, agora também devem ser considerados:

• estresse ocupacional;
  
• assédio moral;
  
• sobrecarga mental;
  
• burnout (reconhecida como doença ocupacional desde 2022).
  

Essa mudança reflete uma preocupação crescente com a saúde mental no ambiente de trabalho. A fase orientativa começa em 2026, e a fiscalização com autuação também terá início nesse período.

Quem precisa cumprir?

A NR 1 se aplica a todas as empresas, mas há um tratamento diferenciado para os pequenos negócios:

• MEI: não precisa elaborar PGR; recebe fichas simplificadas com orientações de prevenção.
  
• ME e EPP (grau de risco 1 e 2): podem ser dispensadas do PGR se não forem identificados riscos ocupacionais.
  
• Demais empresas: devem implantar o GRO e manter o PGR ativo.
  

Vale lembrar que os exames médicos ocupacionais e a emissão do ASO continuam obrigatórios em todos os casos.

Como colocar em prática

Implementar a NR 1 pode ser mais simples do que parece. O processo envolve alguns passos básicos:

1. Mapear riscos em todos os ambientes de trabalho.
   
2. Elaborar o Inventário de Riscos como diagnóstico.
   
3. Montar o Plano de Ação com medidas, prazos e responsáveis.
   
4. Treinar e engajar os colaboradores.
   
5. Acompanhar os resultados e revisar sempre que necessário.
   

Mais do que cumprir uma obrigação legal, a chave é criar uma cultura de prevenção, em que todos entendam seu papel na construção de um ambiente de trabalho mais seguro.

Os benefícios para a empresa

Cumprir a NR 1 não significa apenas evitar multas ou autuações. Quando a gestão de riscos é incorporada à estratégia da empresa, os ganhos são amplos:

• Mais segurança: redução de acidentes e afastamentos.
  
• Mais produtividade: colaboradores saudáveis e motivados produzem mais.
  
• Mais reputação: empresas que cuidam da saúde física e mental dos trabalhadores fortalecem sua imagem institucional.
  
• Mais competitividade: estar em conformidade com normas nacionais e internacionais abre portas para novos negócios.
  

Desafios e soluções

Muitas empresas ainda encontram obstáculos, como:

• dificuldade em controlar os treinamentos obrigatórios;
  
• gestão manual de documentos;
  
• baixa adesão dos colaboradores.
  

A solução está em sistemas de gestão digital que simplificam registros, facilitam a fiscalização e tornam os processos mais transparentes. Além disso, investir em comunicação interna e engajamento faz toda a diferença para transformar a prevenção em parte do dia a dia.

A NR 1 é a bússola da SST no Brasil. Ao estabelecer o GRO, o PGR e, mais recentemente, incluir os riscos psicossociais, ela mostra que a saúde e segurança no trabalho não são apenas obrigações legais, mas um caminho para empresas mais produtivas, humanas e sustentáveis.

👉 O momento é de adaptação e de oportunidade. Quanto antes sua empresa se alinhar às exigências da NR 1, mais preparada estará para os desafios do futuro.

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